O TEXTO NO CONTEXTO COMO PRETEXTO - Para debates em família e na escola - Roberto Gameiro

AMOR PRÓPRIO NÃO É EGOÍSMO - ANA RITA DIAS


Há quem confunda a prioridade de nos amarmos a nós mesmos, com egoísmo e individualismo.


E quando refiro que não podemos estar dependentes de ninguém em particular para sermos felizes - excluindo os meus filhos, porque quando eles vieram ao mundo a minha felicidade ficou hipotecada para sempre e dependente de como eles estão, para barométro de como eu estou - ouço dizer que ninguém é feliz sozinho, que todos precisamos dos outros e de amar e sermos amados.


Que a prioridade de nos bastarmos a nós mesmos, como princípio, é uma mentira ou uma auto-ilusão construída para contribuir para uma sociedade cada vez mais isolada e separada.


Lamento que as pessoas consigam ficar tantas vezes presas nestas dicotomias ou dualidades. Deixando passar as maravilhas das coexistências e a beleza da integração dos opostos, que se complementam.


Como se para uma coisa ser, a outra tivesse de não ser.


É assim que há tantos desentendimentos entre seres humanos. Coloca-se tudo em caixas. No certo ou errado. Na razão ou na loucura.


O que tenho a dizer sobre isto é que só o amor nos salva e que só o amor faz sentido. E que não temos como amar se não tivermos aprendido a ser amados.


Sucede que este amor não tem como ser vivido com alguém de fora, quando não começa por nos habitar cá dentro. Esta é, talvez, uma das grandes aprendizagens desta nossa passagem.


Ou até pode ser vivido, mas com um sentimento de propriedade, de utilidade, de consumo do outro para nos satisfazer, levando inevitavelmente a um sentimento de falta, de carência, de nada ser suficiente ou de culparmos o outro por não nos dar o que precisamos.


Assisto a muitas histórias de "amor" como se fossem seguros de saúde. A outra pessoa apazigua um medo da solidão, da velhice, do desconhecido.


A prioridade de nos amarmos, acima de tudo, não é egoísmo. Não é contribuir para uma sociedade individualista. Aliás, com tanto amor, tanto casamento, tanto divórcio, não deixa de ser sarcástico continuarmos a insistir na ideia de que é o compromisso que está na génese do amor.


O amor é tudo o que é amor. Apenas. Não é um formato, uma opinião de como nos devemos relacionar.


Posso transbordar de amor e não estar numa relação amorosa. Ou posso estar numa relação e toda eu ser desamor.


Por isso, sim. A minha prioridade é amar-me a mim mesma, acima de tudo.


E entusiasma-me a ideia de amar outro alguém, em relação amorosa, mantendo esse princípio que precisou de muita solidão para se construir de uma forma tão sólida, coesa, verdadeira.


Não quero voltar a amar um seguro de saúde, que me ampara e completa.


Quero sim amar na liberdade de me saber suficiente e inteira.


E a falta de amor, que ainda habita neste mundo, não tem nada a ver com isso.


Ana Rita Dias é psicóloga e escritora portuguesa

Ortografia de Portugal

Publicado com autorização da autora


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