Autor desconhecido
Desde o dia em que tu nasceste,
eu criei a ilusão, dentro de mim, que poderia caminhar por ti.
Imaginei que colocaria teus pés
sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranquilos e
seguros.
Isso seria eternamente minha
responsabilidade.
... e foi assim durante um bom
tempo, caminhei por ti, para ti.
Dessa maneira, tu nunca feririas
teus pés pisando em espinhos ou em cacos de vidro e jamais se cansaria da
caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual estrada tomar.
De repente, o tempo veio me
avisar bruscamente que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus
dias.
Teus pés cresceram e eu já não
conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus, daí quando eu menos esperava,
eles escorregaram e alcançaram o solo.
Hoje sou obrigada a vê-los
trilhar caminhos nos quais eu jamais os levaria e ainda tento detê-los
insistentemente, mas só raríssimas vezes consigo.
Agora só me é permitido correr
com os meus junto aos teus, e em certos momentos teus passos são tão longos que
quase não posso acompanhá-los.
Atualmente, assisto aos teus
tropeços, sempre pronta para levantar-te das tuas quedas.
Por vezes tu me estendes as tuas
mãos em busca de socorro, outras, mesmo estando estirado ao chão e ferido,
insistes em levantar-te sozinho por puro orgulho ou para me provar que já és
capaz de erguer-te após teus tombos e curar-te de tuas próprias feridas.
Assim vamos vivendo e sinto uma
saudade imensurável daquele tempo que precisavas de mim para conduzi-lo, pois
era bem mais fácil suportar teu peso sobre meus pés, do que sobre meu coração.
No entanto, já consigo
compreender como a vida é sábia.
Percebo, finalmente, que em algum
momento tu precisaste mesmo desbravar teus caminhos independente de mim...
... como eu, é provável que
tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus, os dos teus filhos.
Não, claro que
não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás, porque
plantei em teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto
peso: o amor!
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