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Roberto Gameiro
O que é motivo de riso para alguns, pode ser motivo de preocupação para tantos outros.
Billy Blanco (1924-2011), músico, compositor e escritor brasileiro, escreveu na sua composição musical “Canto Chorado”: “O que dá pra rir dá pra chorar. Questão só de peso e medida. Problema de hora e lugar...”
Noutro dia, recebi pelo WhatsApp uma charge com duas imagens. Na de cima, uma mãe, em 1996, puxando o filho para dentro de casa, tirando-o das brincadeiras de rua com seus amigos (provavelmente porque ele ficava muito tempo brincando na rua). Na imagem de baixo, uma mãe, em 2016, puxando o filho ("pendurado" num celular) para fora de casa (provavelmente, para ele brincar com seus amigos na rua).
A charge é, geralmente, uma representação caricatural em que se satiriza um fato específico. E, também geralmente, rimos das mensagens propaladas.
Entretanto, o que é motivo de riso para alguns, pode ser motivo de preocupação para tantos outros, neste caso principalmente para os pais e os professores.
Com efeito, a charge focada traz à tona uma das situações mais preocupantes em relação ao processo de formação das crianças e dos adolescentes hoje em dia. Os jovens estão se recolhendo para o campo da individualidade em detrimento das relações interpessoais com seus amigos e amigas, quando os têm. No afã de conseguir cada vez mais amigos virtuais, negligenciam a conquista, a manutenção e mesmo a cativação dos verdadeiros amigos da “vida real”.
Mas convém lembrar que não são apenas os pais que dizem que os filhos ficam muito tempo no celular. Também filhos reclamam que pais não dão tanta atenção a eles quanto dão à telinha do celular ou do computador.
E quando há esse “embate” todos perdem. Perdem os pais, os filhos, os familiares, os amigos e a relação social como um todo; o somatório das individualidades não tem resultado numa “sociedade”, entendendo-se sociedade como um “conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de espaço, seguindo normas comuns, e que são unidas pelo sentimento de consciência do grupo”. (Dicionário Aurélio versão 7.0)
Estudos e pesquisas no Brasil e alhures demonstram que há uma relação preocupante entre o maior tempo de uso diário de celulares e o menor aproveitamento escolar dos adolescentes; há os que ponderam que eles usam os dispositivos mais para o lazer e menos para os conteúdos escolares.
Boa reflexão para pais, filhos e professores.
Artigo publicado no jornal "O Popular" de Goiânia em 17/04/20 sob o título "Jovens e a individualidade" e na revista "Nova Família" em 20/04/20.
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Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional e em Design Instrucional. Contato: textocontextopretexto@uol.com.br
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As ponderações constantes neste artigo nos impelem a refletir sobre o processo de formação das crianças e adolescentes cuja condução está sob a nossa responsabilidade.
Na nossa memória de longo prazo, temos conhecimentos construídos ao longo da vida, os quais são denominados “conhecimentos prévios” que sustentam nossa cognição e nossas emoções e servem de base para a construção de novos conhecimentos a partir dos novos dados e informações que recebemos a todo momento. É, portanto, uma construção somativa cumulativa que vai crescendo sem que percebamos e formatando nossas percepções, nossas tomadas de decisão e nossas identidades como seres humanos e sujeitos de papéis sociais.
René Descartes (1596-1650) escreveu no seu “Meditações Metafísicas”, na “Meditação Primeira”: “Há já algum tempo me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera grande quantidade de falsas opiniões como verdadeiras e que o que depois fundei sobre princípios tão mal assegurados só podia ser muito duvidoso e incerto; ...”
Quantas falsas informações recebemos como verdadeiras sem cotejar com evidências que as validem, e as aceitamos como tal, inserindo-as na nossa memória e ponto.
Essas falsas informações vão servir de “adubo” receptáculo na inserção de novos dados e informações, construindo novos conhecimentos falhos na base.
É uma espécie de “bola de neve” que vai crescendo e nos iludindo, fazendo-nos tomar decisões erradas, conflituosas e ausentes de evidências comprobatórias.
Isso causa uma confusão mental significativa, principalmente se conflitivas com o nosso caráter e nossa personalidade.
É nesse momento que vale a pena conhecer a continuidade do texto de Descartes: “...de forma que me era preciso empreender seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões que até então aceitara em minha crença e começar tudo de novo desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo firme e constante nas ciências”.
Você está ou já esteve nessa situação?
E as nossas crianças e adolescentes? Estão sendo capacitadas para discernir entre o certo e o errado? Em meio a tantas novas tecnologias da informação disponíveis, estão habilitadas a procurar evidências que validem o que leem e ouvem, em fontes fidedignas, antes de aceitar como verdadeiras as informações, ou os dados?
Não basta, portanto, que nós adultos assumamos a postura da dúvida proposta por Descartes há quase quatrocentos anos, no texto aqui apresentado, ou parte dela. Há que se capacitar os meninos e as meninas para assumir essa forma de tratar a construção dos seus conhecimentos, para não caírem nas armadilhas inerentes.
Se cada um de nós cuidar dos seus, além de contribuirmos para a importante formação de uma criança ou adolescente, construiremos, também, uma sociedade melhor, mais verdadeira e mais confiável.
Publicado originalmente em 04/03/2019
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Formar cidadãos conscientes do seu necessário envolvimento na construção de uma sociedade mais justa, solidária, amorosa e sustentável, passa, sem dúvida, pelo incentivo e acompanhamento de suas performances, desde a mais tenra idade, pela família e pela escola, educando-os para o bem, para serem agentes protagonistas do seu próprio desenvolvimento e partícipes da busca constante da melhoria da qualidade de vida de todos. Qualidade de vida que se pauta pelo amor a Deus, pelo amor-próprio e pelo amor ao próximo.
Roberto Gameiro é Mestre em Administração com ênfase em gestão estratégica de organizações, marketing e competitividade; habilitado em Pedagogia (Administração e Supervisão); licenciado em Letras; pós-graduado (lato sensu) em Avaliação Educacional e em Design Instrucional.
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